quinta-feira, 22 de julho de 2010

Enquanto isso, no Maranhão...

A propósito de tudo o que escrevi no post anterior, não posso deixar de divulgar aqui uma notícia que nos deixa mais que perplexos - deixa-nos estarrecidos. Como a velha mídia não cumpre seu papel de noticiar e tem deixado essa tarefa para as mídias independentes na internet, os blogueiros tem se transformado em alvos de forte repressão, com o auxílio da pesada mão da "justiça". Vejam o que ocorre no Maranhão, sob a batuta da velha oligarquia Sarney:

Juiz censura jornalista no Maranhão, numa decisão proferida em dois minutos

O juiz Alexandre Lopes de Abreu, diretor do Fórum Sarney Costa em São Luís e respondendo pela 6ª Vara Cível, decidiu censurar o blog do jornalista Itevaldo Júnior, atendendo um pedido de liminar do juiz Nemias Nunes Carvalho, da 2ª Vara Cível da capital. A decisão de Alexandre Abreu determina que o jornalista retire imediatamente do blog www.itevaldo.com uma reportagem onde ele revela que o juiz Nemias Carvalho comprou uma fazenda de 101,19 hectares, de um acusado que o próprio magistrado revogara a prisão. A ré estava foragida quando da revogação da prisão, mas, em seguida, negociou a propriedade por R$ 5.ooo,00 às margens da BR-316. A decisão liminar foi proferida na última sexta-feira, dia 16. O juiz Alexandre Abreu decidiu em dois minutos, o deferimento, como comprova a movimentação processual disponível no site do Tribunal de Justiça do Maranhão:

“Às 14:00:48 – CONCLUSOS PARA DESPACHO / DECISÃO. sem informação.
Às 14:02:39 – CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR”.

Na decisão, o juiz da 6ª Vara Cível ordena que o jornalista retire imediatamente do blog a matéria “JUIZ NEMIAS CARVALHO: NOUTRA POLÊMICA”, publicada no último dia 12. O juiz determinou ainda que o blog “se abstenha de proceder a qualquer alusão ou referência ao nome do autor, até decisão final da causa”. Além de estipular uma multa diária de R$ 500,00, caso seja descumprida a decisão liminar. O jornalista cumpriu a determinação judicial, hoje, logo após ser notificado às 7h05 da manhã em sua residência. Ainda em sua decisão, o juiz afirma que “a dignidade da pessoa” é um “bem maior” que a “liberdade de manifestação”. Itevaldo Júnior afirmou que recorrerá da rápida decisão. “A celeridade dessa decisão é de fazer inveja ao velocista jamaicano Usaih Bolt”, ironizou o jornalista.


(Retirado do blog Brasília, eu vi - de Leandro Fortes)

Não é novidade, sabem? Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e outros blogueiros respondem a numerosos processos judiciais, de autoria - pasmem! - de órgãos de imprensa como a Veja e a Falha de São Paulo. Parece que querem aniquilar a concorrência, sem melhorar a qualidade da imprensa que praticam, simplesmente calando quem faz a crítica que todo leitor gostaria de encontrar nas revistas e jornalões. É ou não censura?

terça-feira, 20 de julho de 2010

O fim da velha mídia

Quando passo muito tempo sem escrever geralmente há duas razões: perplexidade ou tristeza. Mas pode ser que as duas ocorram simultaneamente, no meio do turbilhão que é o cotidiano com suas 684 tarefas.

Ando triste porque uma grande amiga está doente. Penso nela diariamente, várias vezes ao dia. Isso me dispersa, me dá vontade de fugir do dia-a-dia, ficar num canto, quieta, esperando notícias que melhorem a cor do mundo...

Mas também tenho andado perplexa. Prometi alguns posts atrás que escreveria sobre o fim da velha mídia no Brasil. Acho que chegou a hora, tendo em vista a notícia de que o Jornal do Brasil suspendeu sua tiragem impressa, passando a existir apenas na web. Veja aqui como a Falha de São Paulo divulgou a matéria. Pobres cariocas! Agora eles tem apenas O Globo... (não que o JB fosse um excelente jornal, bem entendido)

Isso pode ser um sintoma e um sinal. Algum tempo atrás analisei os órgãos de imprensa brasileiros como uma associação mafiosa-partidária. E o que tenho lido e ouvido confirma essa impressão. No momento em que se inicia no país mais uma campanha eleitoral, nossa imprensa vela verdades e desvela-se para o leitor/espectador como pura tentativa de manipulação.

Penso que seria mais honesto se todos os jornais, revistas, emissoras de rádio e canais de televisão explicitassem para o leitor/espectador sua preferência por este ou aquele candidato, embasando seus argumentos em uma análise criteriosa do perfil do escolhido. Mas uma análise séria, não a repetição de clichês e de preconceitos.

Que eu saiba, apenas uma revista semanal teve a coragem de fazer isso. E foi logo acusada de querer se beneficiar em um eventual governo do partido que diz apoiar. Mas confesso que me sinto mais confortável lendo essa revista, que assume claramente uma posição, do que outras que, sob o manto de uma fictícia imparcialidade, enganam seus leitores.

Aprendi por aí que a imparcialidade no jornalismo é um mito. Não se trata propriamente de uma novidade, para quem viveu a história recente do Brasil - e olhem que não sou tão velha assim! Mas me lembro perfeitamente da primeira eleição direta para presidente depois da ditadura empresarial-militar que nos sufocou por longos anos. Lembro-me claramente como a imprensa, capitaneada pelas Organizações Globo, construiu e vendeu como sabonete a imagem de um caçador de marajás, vindo das plagas alagoanas. E de como um debate entre os dois candidatos a presidente, no segundo turno, foi editado para ir ao ar no JN na véspera da eleição, favorecendo aquele que, depois de empossado e de ter apregoado que tinha "aquilo roxo", protagonizaria o primeiro caso de impeachment da história republicana brasileira. O diabo é que me lembro disso cristalinamente! E de vez em quando revejo essa história, como aqui (esse documentário está dividido em 10 partes, todas muito interessantes):



É duro ter memória, sabem? Talvez fosse mais cômodo a gente esquecer o que ficou para trás, seguir vivendo feliz, com a mente entorpecida pelas telenovelas, pelos sonhos de consumo, pelas reportagens que escurecem com a nódoa do ódio de classe a realidade. Talvez fosse mais fácil alienar-se, dar uma guinada para o conservadorismo que ignora a pobreza, adota o discurso do mérito e da competência; talvez fosse mais doce olhar o abismo social que divide as classes no Brasil como resultado da falta de esforço, da secular preguiça dos brasileiros. E tachar os militantes do MST de baderneiros. Talvez fosse mais fácil ignorar que este é um povo trabalhador, que deseja apenas ter acesso a uma vida digna, com educação de qualidade, condições de moradia, de saúde, de mobilidade, de segurança alimentar. E que este é um país que reúne todas as condições físicas e materiais de proporcionar isso a seus cidadãos.

Um brasileiro "preguiçoso"

Analisando a mídia de hoje a gente entende por que o Brasil demorou tanto tempo a tomar o rumo das mudanças que provocaram transformações visíveis no cotidiano da maioria da população. Os mesmos jornais, revistas, estações de rádio e televisão estão aí, a repetirem o tipo de "jornalismo" que faziam há dez anos: comprometido com os poderosos, forjando notícias que não resistem a uma confrontação com a realidade, assassinando reputações daqueles que contrariam seus interesses, apoiando veladamente seus candidatos nas próximas eleições... Posso citar muitos exemplos, desde uma certa ficha policial falsa até "reportagens" alertando para uma eventual queda do valor das ações da Petrobrás.

O jornalismo de esgoto que hoje se pratica abundantemente no Brasil não se preocupa com as consequências: cria pânico para provocar corridas massivas a postos de vacinação; preconiza fracassos em todas as empreitadas que o governo tem pela frente, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016; defende escancaradamente interesses estrangeiros na discussão sobre a exploração do petróleo do pré-sal; debocha de programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida; é maledicente e difamador. Mantém "especialistas" de plantão para dar entrevistas que desqualificam as políticas públicas em curso no Brasil. Enfim, é um "jornalismo" que torce contra o Brasil.

Por isso penso que está próximo o fim da velha mídia, essa que hoje identificamos como sabotadora e golpista, afinada com os interesses udenistas que ainda impregnam a ideologia da elite brasileira, vendida e vendilhona (se é que existe essa palavra....), com o apoio inestimável de uma Justiça que privilegia a visão de mundo da classe dominante: o sagrado direito à propriedade privada, em detrimento do direito da maioria à justiça social.

Mas voltemos ao sintoma e ao sinal. O sintoma nos mostra que o jornalismo está em crise no Brasil, com o surgimento de novas mídias, notadamente as que utilizam a internet e se valem das redes sociais. O sinal nos dá a certeza de que os brasileiros, à medida que tem acesso a essas novas mídias, tendem a dispensar o conservadorismo caduco da velha mídia, abrindo mão primeiramente da leitura das versões impressas. Chegará o dia em que os canais de televisão públicos substituirão a também caduca programação das emissoras tradicionais.